A Trincadeira é uma casta antiga em Portugal. Está documentada desde o início do século XVII. O célebre Visconde de Villa Maior classifica-a em 1865 como casta cultivada nas regiões do Douro, Ribatejo e Alentejo (Afonso, 2023).
Presente de Norte a Sul de Portugal, a Trincadeira é caprichosa e não perdoa desatenções. Adora o sol, delicia-se com o calor, tem espírito de equipa e nos melhores exemplos, os seus vinhos são irresistíveis.
![stunning landscape in the Douro region, Portugal](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_086607f1304240209b43f5369427f955~mv2.jpeg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_086607f1304240209b43f5369427f955~mv2.jpeg)
Ainda não lhe são conhecidos os “pais”, mas carrega genes da Ramisco de Colares e da Sercial da Madeira. Estudos mais recentes da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID) levam a crer que tenha nascido em clima atlântico.
No entanto, é curioso notar que ela se desenvolve melhor em regiões mais quentes e secas. Mas, lá está! A ciência diz que é no Oeste onde se encontra a maior variabilidade genética. Esta variabilidade costuma ser um indicativo de maior antiguidade num determinado lugar.
Está cultivada desde Trás-os-Montes e Alto Douro até ao extremo sul, no Algarve. Por ocupar tanto e tão diverso terreno, não é difícil supor que seja outra prova da sua antiguidade. E que seja chamada por outros tantos nomes que frequentemente estão na base de confusões.
No Douro e no Dão é conhecida por Tinta Amarela. No Alentejo e grande parte do Ribatejo é conhecida por Trincadeira ou Trincadeira Preta. Em Aveiras, também parte do Ribatejo, dão-lhe o peculiar nome de Castiço. Em Torres Vedras é batizada de Mortágua. Em Bucelas e na Arruda dos Vinhos tratam-na por Peto Martinho. Na região de Setúbal é conhecida por Espadeiro ou Murteira. Mais a sul, no Algarve, é conhecida por Crato Preto. Os dois nomes que vingaram são a Tinta Amarela e Trincadeira. Fonte: Winesofportugal
Por se encontrar disseminada por tantos lugares, alguma virtude deve ter. Uma dessas boas qualidades é a de ser reconhecida como uma das melhores castas tintas portuguesas para integrar vinho de lote. Puxando pela memória, lá está a Trincadeira em alguns dos rótulos portugueses de grande fama. Pêra Manca, Tapada do Chaves, entre muitos outros clássicos alentejanos. No Douro esteve sempre presente em muitos Vinho do Porto. Em Trás-Os-Montes, no icónico Vallepradinhos, a Trincadeira sempre deu a mão ao Cabernet Sauvignon. Outros também notabilizaram pelos belíssimos vinhos varietais de Trincadeira e deles nunca abdicaram.
![stunning landscape in Tras-os-Montes, Portugal](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_891d325b9c0a4e95bfa0c63c2df2ed2d~mv2.jpeg/v1/fill/w_980,h_586,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_891d325b9c0a4e95bfa0c63c2df2ed2d~mv2.jpeg)
Já teve maior presença no encepamento nacional e tem vindo em retrocesso. Segundo dados do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), relativos ao ano de 2023, a casta é a 10ª mais plantada com um total de 6 527 hectares, representa 3,7% do total. Ocupa o sétimo lugar nas variedades tintas.
No entanto, por ser uma das nossas castas tintas que mais gostam de calor no verão, volta a ser olhada com renovado interesse. A resistência à secura, ao calor e à intensidade luminosa comprova estar bem adaptada às condições típicas do interior centro-sul do país. No caso de excesso de calor, há perigo de secagem e degradação de bagos. Quando bem amadurecida e colhida no momento certo, pode originar vinhos de excelente qualidade. Assim, na abordagem às questões do aquecimento global, a Trincadeira é uma ferramenta a não desperdiçar.
![No Douro e no Dão é conhecida por Tinta Amarela. No Alentejo e grande parte do Ribatejo é conhecida por Trincadeira ou Trincadeira Preta. Em Aveiras, também parte do Ribatejo, dão-lhe o peculiar nome de Castiço. Em Torres Vedras é batizada de Mortágua. Em Bucelas e na Arruda dos Vinhos tratam-na por Peto Martinho. Na região de Setúbal é conhecida por Espadeiro ou Murteira. Mais a sul, no Algarve, é conhecida por Crato Preto. Os dois nomes que vingaram são a Tinta Amarela e Trincadeira.](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_6634e7242864405492d37f65b68677a7~mv2.jpeg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_6634e7242864405492d37f65b68677a7~mv2.jpeg)
Mas como todo o positivo, há também o reverso da medalha. Começa por não ser uma uva nada fácil no campo. Não perdoa o mau cultivo. É frequente no início do outono gerar ansiedade nos produtores que dão primazia à qualidade. O momento de colheita é fundamental. Colher tarde demais pode resultar em vinhos com alto pH e álcool. Colher cedo demais pode levar a uma acidez forte e taninos verdes. O equilíbrio é difícil, mas alcançável com experiência. Quando maduras no ponto, proporcionam matéria-prima excepcional.
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Nos locais de influência marítima ou nas áreas baixas e húmidas, durante o verão, é comum a ocorrência de problemas sanitários e atrasos na maturação. Essas condições geralmente redundam em vinhos pouco atrativos. Uma chuva intensa no final da maturação pode causar danos significativos e levar a um cenário de pesadelo. Tem película fina que a torna muito propensa a desenvolver podridão. Assim como em condições de stress hídrico, seguidas de chuva, os bagos incham e estouram por falta de espaço para expandir.
Gosta de solos profundos, de baixa fertilidade, textura franca/arenosa, seco ou bem drenado. É vigorosa, tem bom rendimento de fruto, é precoce na maturação e sensível à podridão.
Como se vê não é uma casta fácil e requer inúmeros cuidados. A exigência que levou enólogos e produtores a preteri-la e a consequente redução de plantação. Todavia, os mesmos enólogos e produtores, realçam as excelentes características de um bom vinho com base numa boa uva de Trincadeira.
Do ponto de vista enológico, a casta Trincadeira destaca-se pela sua boa acidez e taninos suaves, proporcionando estrutura e elegância aos vinhos. Nos melhores exemplos, ostenta boa aptidão para envelhecimento em barricas de carvalho novo, contribuindo para vinhos complexos e duradouros. Aromaticamente, é caracterizada por notas de fruto maduro e bastante doce que lembram as cerejas e groselhas cobertas de notas abaunilhadas. São perceptíveis notas de alguma ameixa passa, complementadas por um perfil vegetal de matagal rasteiro e nuances balsâmicas. Também são comuns aromas de paprika, cravo, canela e pimento verde. Com corpo cheio e sólido, a Trincadeira possui um elevado potencial de guarda e é amplamente utilizada em lotes de vinhos nacionais.
Exemplos de vinhos de Trincadeira ou Tinta Amarela:
![red wine in a glass at sunset, celebrating a wonderful Portuguese wine](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_6558ec5db78b4c6bbef551f47472f9ad~mv2.jpg/v1/fill/w_675,h_1200,al_c,q_85,enc_auto/241ea0_6558ec5db78b4c6bbef551f47472f9ad~mv2.jpg)
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