Na elaboração da talha ou ânfora para o “Vinho de Talha” e ao longo de toda a sua vida, o “pesgar” da talha assume papel determinante como revestimento de impermeabilização desses recipientes e que lhes confere resistência. Razão pela qual ainda há muitas talhas com mais de um século a cumprir a sua missão na elaboração do Vinho de Talha.
O pesgar é, igualmente, uma técnica imprescindível para que o vinho não “entranhe” no barro e azede. No Alentejo é uma operação vulgar, feita por famílias de pesgadores que aplicam receitas de pez únicas, sigilosas, guardadas religiosamente como segredo no seio da família. Segredos do ofício que passam de geração em geração.
Essas diferenças de receita da elaboração do pez, levavam a uma distinção no sabor dos vinhos.
“Há quem diga que era possível identificar quem fazia a operação pelo toque especial de resina que apresentava o vinho” Virgílio Loureiro
O pez, em geral, é um produto à base de cera de abelha, resina de pinheiro, chamada de pez louro e azeite. A estes, pode-se adicionar alguns outros produtos naturais, conforme a receita do pesgador.
A cera de abelha é produzida pelas abelhas “construtoras”, usada para construir favos de mel. Este tesouro da natureza é único pela sua raridade e pelo seu papel fundamental na sobrevivência de uma colmeia. A produção de cera de abelha é um processo longo: as abelhas devem consumir cerca de 10 kg de mel para produzir 1 kg de cera!
Composto sobretudo por ácidos gordos, o seu uso é amplamente utilizado pela sua capacidade de ligar os diferentes componentes de uma fórmula e permite a obtenção de texturas cremosas.
"Houve uma altura que a cera de abelhas, era especialmente utilizada para vinhos de maior qualidade e, principalmente, para o azeite, dado que este ficava com um sabor intragável com a resina.” Virgílio Loureiro
Após a colheita da resina no pinhal, esta é encaminhada para a fábrica onde sofre um processo natural de destilação. É neste processo que são removidas todas as impurezas. À temperatura ambiente é um sólido de cor âmbar, frágil (quebradiço), transparente e vítreo, com muitas aplicações, como em colas, vernizes, tintas... e até em pastilhas elásticas. Tem boa resistência à oxidação e um ponto de fusão entre os 120 e os 135 graus.
"A resina, ou pez louro, é um derivado da resina natural de Pinus Pinaster (pinheiro bravo) o mais abundante em Portugal."
No processo de “pesgagem”, a peça ou a “talha” tem que estar bem quente. Encontra-se suspensa, de boca para baixo para receber o calor do fogo. Ao mesmo tempo, o pez tem de ser derretido numa panela de ferro.
A talha bem quente, é pousada no chão com todo o cuidado para não quebrar e colocada de lado de modo que se possa revestir com o pez.
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Depois espalha-se o pez pelo interior da peça e a talha é rebolada para espalhar o pez e criar uma camada homogênea pelo interior. Processo repetido até ao ponto considerado ajustado.
“Quando a talha está cozida é besuntada, por dentro, com pês derretido, que torna o barro impermeável”. Orlando Ribeiro
E é assim, que ainda hoje deste modo ancestral ainda muitos produtores de Vinho de Talha, guardam e, mais importante, recuperam e mantêm este saber tão característico.
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