Tomar é um território tão distinto na região vitivinícola do Tejo, que dá ideia de se estar noutra área do país vinícola. Situada no centro geográfico de Portugal, no distrito de Santarém, a cidade de Tomar, fundada pelos Cavaleiros Templários no século XII em terra concedida pelo primeiro rei de Portugal, dá o nome ao concelho que limita a norte a esta região vitivinícola. Aqui a cultura, tradição, património, arquitetura, festas, estão a hora e meia da capital, Lisboa, e a cerca de duas do Porto.
![Tomar, Portugal](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_dd59690b15214d5b9402e0da88d926dd~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_564,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_dd59690b15214d5b9402e0da88d926dd~mv2.jpg)
Nestas terras atravessadas pelo rio Nabão que é um afluente do rio Zêzere, as encostas dominam a paisagem. Não há planícies a perder de vista como noutras sub-regiões do Tejo.
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As minúsculas parcelas de vinha estão ocultas por bosques e só lá chegamos guiados por quem sabe. A esta diferença junte-se um substancial património de vinhas velhas, daquelas em que a mistura de castas ainda é tradição.
Como noutras zonas mais rurais, esta área não ao escapa aos dilemas e desafios das mudanças geracionais. Os mais velhos já sem a energia de outrora são incapazes de levar por diante o labor e atenção que a vinhas pedem e os descendentes, mais interessados noutro modo de vida, abalam com outras perspetivas em mente.
Esta quebra de linhagem rural corre o risco de pôr em causa a continuidade destas vinhas. Como em muitas histórias de final feliz há quem resolva que o destino não tem de ser esse, do abandono desse tesouro e ponha mãos à obra. Um desses heróis é o o enólogo e produtor Pedro Sereno.
![Winemaker Pedro Sereno at his home in Tomar](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_c8640ec2e8554bc29f1846872e845bab~mv2.jpg/v1/fill/w_708,h_1200,al_c,q_85,enc_auto/241ea0_c8640ec2e8554bc29f1846872e845bab~mv2.jpg)
Pedro Sereno
Nascido e criado em Tomar, Pedro dedica-se a um projeto em nome pessoal que resgata e valoriza as vinhas velhas desta sub-região DOC Tejo e demonstra, com vinhos de altíssima qualidade, este terroir singular.
Depois de catorze anos como enólogo no projeto familiar Encosta do Sobral, ali mesmo em Tomar, com passagens pelo Douro e Alentejo, entre outros locais, Pedro contraria o fado geracional e aposta na sua terra, que bem conhece.
Este Mestre em Viticultura e Enologia com tese sobre Viticultura (livro) de Precisão (PDF), elegeu pequenos pedaços de terra com vinhas de “boutique”, que encontram-se espalhadas pela região, seguindo a tradição da co-associação tão característica dos minifúndios locais, metidas entre eucaliptos, pinheiros e oliveiras, com muitas em solos de xisto. Pedro está focado em criar vinhos únicos e autênticos, de forte conexão com a terra de onde vêm.
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Pedro faz os vinhos “que me dão prazer, que contam histórias, que fazem diferença!”
Nessas mini parcelas, umas arrendadas, outras compradas, assentam videiras com idades compreendidas entre os 30 e os 100 anos. Várias estão cultivadas em modo de sequeiro (cultura agrícola que cresce sem a necessidade de adição de água ao solo por meio de irrigação). Tudo há muito tempo identificado. Pedro, já trabalhava com algumas e de outras já lhes conhecia o valor.
A singularidade de Tomar
Pedro faz questão de destacar as enormes diferenças da zona de Tomar, por exemplo, para as zonas de Almeirim ou do Cartaxo, outras duas sub-regiões do Tejo.
![Tejo Wine Region Map](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_a0ec331f8f5245f0a0afb2538da62d23~mv2.png/v1/fill/w_980,h_945,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_a0ec331f8f5245f0a0afb2538da62d23~mv2.png)
Uma delas, é o conceito de vinha velha. Em Tomar, a vinha velha é mistura de castas e não monocasta como nas outras sub-regiões. Por aqui, nos solos prolifera o xisto, seguido da aluvião e o argilo calcário a uma cota de 300 metros de altitude. Em Tomar não se sente da influência do Tejo, mas da grande massa de água da barragem de Castelo de Bode.
![barragem de Castelo de Bode.](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_bab090c4519d4ca686ec917a92567261~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_bab090c4519d4ca686ec917a92567261~mv2.jpg)
Diz que nas vinhas acima dos 50 anos, há muita Trincadeira, Castelão e Baga. Abaixo dessa idade, já se vê muito Alicante Bouschet que parece ter sido introduzido mais recentemente.
Toda a zona que vai da Serra de Tomar para o lado de Ferreira do Zêzere, é xisto. O património vitícola é completamente diferente. O tradicional ali, é fazer vinho palhete, por isso todas as vinhas velhas têm 60%-70% de branco e 30% - 40% de tinto.
Nas castas brancas com mais de 50 anos, domina a Fernão Pires, a Bical e a Malvasia Fina. “Ultimamente, é comum a Arinto. Antes era a Bical que fazia um pouco o papel da Arinto, no que toca à acidez”. Acrescenta que todo este património está colado à história de Tomar e às personalidades locais relevantes na história do nosso país.
Os vinhos
A partir destas vinhas criou uma gama de vinhos em nome próprio, “Pedro Sereno Vinhas Velhas branco e tinto” e “Pedro Sereno bivarietal”. Este último, é um lote pouco comum de 49% Alvarinho e 51% Encruzado oriundo de uma vinha plantada pelos professores Rogério de Castro e Virgílio Loureiro, nos finais dos anos 1990 mas que se encontrava abandonada, agora arrendada e recuperada.
![Pedro Sereno white wines portfolio](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_646dc84372b64342ae90e1581d8e5898~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_646dc84372b64342ae90e1581d8e5898~mv2.jpg)
Já a gama “Pedro Sereno Vinhas Velhas" (branco e tinto), provêm do agregado de vinhas muito pequeninas, numa zona de montanha, do tal minifúndio tradicional vocacionado para olival, para a vinha e silvicultura. Vinhas de várias parcelas, umas viradas a norte e outras mais viradas a sul-poente, “são diferentes, mas que no conjunto funcionam e temos ali condições para fazer coisas espetaculares”.
Como a sua base académica sempre foi a viticultura, entendia cada vez mais o que cada vinha poderia dar, sentindo que algo estava ainda por fazer. E com este projeto pôde fazer coisas “engraçadas”, fazer algo de novo, “sou o primeiro a acreditar nas vinhas e quero mostrar o que elas podem ser”.
Apanhou separadamente as castas brancas e tintas, que se encontram, pela tradição, misturadas e destinadas a fazer palhete, “agora com elas fazemos vinho branco e vinho tinto”. A vinificação é simples. As castas são fermentadas todas juntas, pois “nas vinhas velhas gosto mais de misturar na fermentação do que após a fermentação”. As barricas boas, o estágio longo, mais o necessário tempo de garrafa, são os outros passos de forma de respeitar e interpretar à sua maneira as singularidades desses micro terroirs.
![oak barrels at Pedro Sereno's cellar](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_0a147546e35644e1af22cab73a2eeef9~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_0a147546e35644e1af22cab73a2eeef9~mv2.jpg)
As quantidades são muito reduzidas mas merecedoras de experimentação.
O produtor julga ter conseguido obter uma frescura e uma complexidade pouco comum, “Estou muito contente! Não é o melhor vinho do mundo, mas estamos num patamar elevado que ajudará a elevar a bandeira da região”.
O projeto “Pedro Sereno Vinhas Velhas”, já agrupa vinhos do Douro e Portalegre sob a mesma ideia. Mas a sua “menina dos olhos” é Tomar e as suas vinhas antigas, retratadas através de vinhos de enorme sensibilidade, feitos numa abordagem contemporânea, porém, com toda a clareza e essência de terroir, com muitas histórias para contar.
Conheça alguns dos vinhos:
![sommelier Manuel Moreira with the city of Tomar in the background](https://static.wixstatic.com/media/241ea0_e68806483e5d4f828e61ef8e59fbb6e2~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_552,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/241ea0_e68806483e5d4f828e61ef8e59fbb6e2~mv2.jpg)
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