Se é um dos nossos muitos leitores fiéis, talvez se lembre do nosso anterior artigo sobre o azeite. Se não o leu, não faz mal, pode lê-lo agora, não contamos a ninguém.
O azeite é um dos pilares da gastronomia mediterrânica, e em Portugal não é exceção. Felizmente (e mais vale tarde que nunca) o azeite português começa a ser valorizado como um produto de alta qualidade pelos consumidores. Apesar de muitos acharem que sabem de azeite, na verdade está muito por descobrir e informar.
Estamos aqui hoje para continuar nessa descoberta!
O azeite virgem extra ocupa o lugar de destaque pela pureza e características organolépticas superiores. Ainda assim, nem todos os azeites virgens extra são iguais. Basta explorar os sabores identitários vertidos pela área de origem, protegidos legalmente por sistemas como as denominações de origem protegida (DOP) e as indicações geográficas protegidas (IGP).
Além destes ligados ao “terroir”, começa-se a valorizar outros fatores diferenciadores, um pouco à semelhança do vinho. Um deles é o azeite monovarietal, de uma só variedade de azeitona.
A estes acrescem outros, como os azeites feitos a partir de azeitonas mais maduras, outros com azeitonas mais verdes, outros ainda com uma mistura dos graus de maturação, e alguns dão ênfase ao terroir ou à data de apanha (Early Harvest).
Mas por agora, daremos importância às variedades de azeitona mais comuns nos azeites, apontando algumas das suas principais características. Em tudo semelhante ao que se passa com as castas de uva. Ainda, e tal como no vinho, poderá identificar aquela ou aquelas variedades que o fazem gostar mais deste ou daquele azeite.
Para se tornar um pouco mais conhecedor, sem precisar de ser um especialista, encontre aqui algumas das mais frequentes variedades nos azeites disponíveis no mercado.
Cobrançosa: A Oliveira Robusta e Versátil
A Cobrançosa é uma oliveira robusta, com copa densa e vigorosa, bem adaptada a solos pobres, uma característica típica das variedades tradicionais. Reconhecida como uma das melhores para produção de azeite. Aqui destaca-se pelo aroma complexo e frutado, com notas de ervas frescas, tomate e, por vezes, amêndoas. No paladar, sobressai pela intensidade com amargor e picância agradáveis, sendo ideal para quem aprecia azeites com personalidade.
A sua resistência à oxidação, valoriza-a também nas preparações culinárias. Embora seja usada principalmente na produção de azeite, também pode ser consumida como azeitona de mesa.
Cordovil: dos azeites equilibrados á conserva para a mesa
Existem várias variedades sob o nome Cordovil: o Cordovil de Castelo Branco, o Cordovil de Serpa e o Cordovil de Trás-os-Montes. Ambas com elevada produtividade e usadas tanto na produção de azeite como na conserva de azeitonas verdes para mesa.
O azeite de Cordovil tem como atributos o aroma frutado intenso com nuances verdes a lembrar que couve recém-cortada, folhas de oliveira e notas cítricas. O paladar é agraciado pelo equilíbrio entre amargor e picante moderado, com um toque final delicado de frutos secos e casca de amêndoa verde.
Versátil, o azeite de Cordovil presta-se a boa variedade de preparações culinárias, indo das saladas, açordas, tapas até pratos de sabores intensos.
Galega: A Variedade Mais Representativa de Portugal
A Galega, uma variedade 100% portuguesa e a mais amplamente difundida no país, destaca-se tanto na produção de azeite quanto como azeitona de mesa. Tem um rendimento médio ou baixo em azeite quando comparada a outras variedades.
O seu azeite distingue-se pelos aromas frutados delicados, com notas de maçã e amêndoa, e um perfil doce e suave, característico da variedade. Quando as azeitonas são colhidas ainda verdes, o azeite exibe um subtil toque amargo e picante. Ideal para quem prefere um azeite mais leve.
Além disso, a Galega é muito valorizada como azeitona de mesa, muito pela facilidade de separação entre a polpa e o caroço, tornando-a prática e versátil para consumo direto.
Verdeal: Azeite aromático, de perfil frutado e picante
Bem adaptada a condições climáticas adversas, como frio ou seca A variedade Verdeal é valorizada tanto para a produção de azeite como para a conserva de azeitona em verde. Os azeites desta cultivar identificam-se pela boa intensidade aromática de notas verdes de relva cortada. O azeite de Verdeal tem notas frutadas e persistência de sabor equilibrado entre amargor e picância. É uma excelente escolha para quem procura um azeite aromático.
Picual: A polivalente emigrante
Tem origem espanhola, a árvore tem boa capacidade de adaptação a diferentes tipos de solo e condições climáticas. Produz principalmente azeite de elevada qualidade. Muito valorizado pela sua estabilidade à oxidação, o que garante uma longa vida útil.
No paladar, apresenta notas verdes intensas, com toques de ervas frescas, folhas de figueira e um ligeiro picante e amargo. A elevada concentração de polifenóis torna-o benéfico para a saúde e mais resistente ao calor.
Se gosta de cozinhar com azeite, o de Picual entra no rol dos mais apropriados, em particular para fritar. É também muito utilizado em consumo a cru (em saladas e na finalização de pratos).
Cada uma destas variedades confere ao azeite português características singulares, que vão desde sabores herbáceos e picantes até notas frutadas e subtis. No prazer e na alimentação, o azeite português é um produto autêntico e imprescindível à mesa, sobre o qual é fundamental descobri-lo, aprofundar o conhecimento e o seu entendimento.
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