A “ginjinha”, é um dos mais famosos licores portugueses, em especial, as ginjinhas de Óbidos e de Alcobaça.
A maioria dos relatos atribui a origem do licor de Ginja, a “ginjinha”, a uma receita conventual do século XVII. Conta-se que um frade criou e aprimorou a fórmula do licor de ginja, que mais tarde seria difundida no seio das famílias locais até ao dia de hoje. E cada família mantém em absoluto segredo a sua “receita”.
Olhando para trás, a preparação de licores à base de frutas, ervas, etc., remonta a tempos e locais ancestrais. Os licores tinham até um uso medicinal ou de cura de diversos males, do espírito ou do físico.
As ginjeiras (Prunus cerasus) chegam a Roma em (109-57 a.C.) vindas da Turquia. Aí o fruto, a ginja – da família das cerejas - era importante como digestivo e diurético, o que contribuiu à sua propagação por toda a Europa.
A ginja chega ao que é hoje território português, é elogiada por personalidades em visita a Óbidos que se tornou o domicílio das ginjeiras desta região.
Do aparecimento da ginjeira e do seu fruto, a ginja, até ao seu licor, passaram-se séculos e inúmeras “invenções”, como a destilação e difusão do açúcar. Atravessou as “trevas” Bárbaras e da Idade Média, até que os monges de ordens religiosas abonadas, começaram a macerar frutos, plantas e raízes, em aguardentes e açúcar, para fins medicinais. E assim, vão emergindo, de forma muito rudimentar, os primeiros licores e as “bebidas espirituosas”.
A ginjeira passou a ser uma árvore muito comum na região de Óbidos, sendo o fruto consumido em fresco ou servindo de base para o fabrico de licores conventuais, documentado desde o séc. XVII.
Os Monges da Ordem de Cister também tiveram a sua influência na cultura da Ginja de Óbidos e Alcobaça, pela criação das “granjas” em meados do séc. XIV. Estas "granjas", propriedades rurais num modelo agrícola em era fornecido aos colonos todo o material agrícola para trabalhar.
Com o Renascimento (entre meados do século XIV e o fim do século XVI ) essas bebidas saíram dos redutos das ordens religiosas e chegariam à nobreza endinheirada, andou nas cortes europeias, chegando à portuguesa, onde nasce um licor de ginja, preparado na Cozinha Real de Óbidos, em 1677.
Chega à burguesia da época que muito a aprecia, ateando de novo o fogo aos alambiques e impulsiona a divulgação do licor de ginja. Tornou-se a bebida dos brindes e tertúlias, da nobreza, da burguesia, dos poetas, dos fadistas e dos bon vivants.
Há relatos de que, por 1755, existiam vários estabelecimentos em Lisboa onde, debaixo de uma lona, se vendiam já ginjas mergulhadas em aguardente.
Aos poucos, foi aparecendo e generalizando nas tabernas e a ser apreciado por toda a população, transformando-se na tradição secular que é nos dias de hoje.
Ginja de Óbidos e Alcobaça
Designa-se por Ginja de Óbidos e Alcobaça os frutos da variedade «Galega», da família das Rosáceas, subfamília das Prunóideas, género Prunus e espécie Prunus cerasus L.
A zona de produção da «Ginja de Óbidos e Alcobaça» situa-se entre a Serra dos Candeeiros e o Oceano Atlântico. Este fruto caracteriza-se, essencialmente, pela cor vermelha, calibre pequeno, forma ligeiramente achatada.
A Ginja d’Óbidos e Alcobaça, são consideradas as mais “genuínas” até porque usam a ginja da variedade “Galega”, de características protegidas pela Indicação Geográfica e com atributos perfeitamente adequados, de sabor e aroma, ao fabrico do Licor de Ginja.
O clima e o solo desta área conferem qualidades organolépticas e de atributos específicos ao fruto, o que o diferencia das ginjas obtidas noutras regiões. É a uma altitude perto dos 100 metros, pelas encostas viradas a Oeste, de minifúndio, que desde sempre os agricultores destas zonas cultivam de forma mais ou menos espontânea as ginjeiras, que dividem propriedades, servem de proteção das searas aos ventos e escoram os valados (vala rasa, que delimita uma propriedade rural) nos terrenos em socalco.
Aqui, a ginja difere de outras variedades de ginja e de cereja. A polpa apresenta consistência moderada e textura firme, de pH mais baixo e acidez mais elevada, equilibrada pela boa percentagem de açúcar, que ao provar dá o sabor agridoce, autêntico e característico deste fruto.
O momento ideal de colheita é entre junho e julho. Não há nenhum método sofisticado na decisão de apanha. O método é o de examinar o aspecto visual, em particular, da cor típica dos frutos. Como é um fruto muito sensível, devem ser tomados os cuidados na sua apanha e manipulação de modo a assegurar a integridade dos frutos.
O Licor de Ginja não está protegido por certificação de origem. Pode ser elaborada em várias zonas de Portugal.
Na próxima semana (Parte 2) vamos explicar os diferentes tipos de Ginjinha e os melhores produtores em Portugal. Fiquem atentos!
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