Imagine que ao pegar numa garrafa de vinho, repara que nesta consta a palavra “altitude”. Ou “Vinho de Altitude”. Atualmente, com tantos designativos na rotulagem, quase não se estranha a existência de mais um. Mas, claro, a curiosidade fica no ar.
Será mais um termo um tanto vago e vazio de sentido como o “Reserva”, ou “Special Selection”? A resposta é, e pode ficar descansado, que o mais provável é que esse termo signifique mesmo alguma coisa.
Com efeito, a altitude influencia significativamente a expressão sensorial de um vinho. Isso significa que um vinho produzido a partir de vinhas localizadas em altitudes elevadas apresentará características e um estilo únicos quando comparado a outros originados ao nível do mar.
Vamos lá a ver. Em primeiro lugar, o termo “vinho de altitude” não se refere a que seja produzido a uma altura específica acima do nível do mar. Em Portugal, vinhas situadas nos 500 metros já são qualificadas como de altitude. Outras há desde os 700 até aos 1000 metros, como é o caso em Montalegre, na região vitivinícola de Trás-os-Montes, e de uma vinha na zona de Melgaço, DOC Vinho Verde.
Várias regiões vitivinícolas com boa parte das vinhas acima dos 500 metros são o Dão, Douro, a sub-região de Portalegre, no Alentejo, e a Beira Interior, a mais alta região vitivinícola de Portugal.
Pode-se dizer que um “vinho de altitude” é aquele que é produzido em regiões montanhosas ou em encostas com elevada altitude. Mas mais significativo, é quando essa elevação contribui decisivamente para diferenciar e influenciar a qualidade do produto final.
Ou seja, quando essa condição fizer efetivamente a diferença. E assim, é admissível falar em “vinhos de altitude”.
E como se manifesta essa diferença causada pela altitude? A primeira e mais importante, é que estar bem mais alto possibilita a produção de vinhos mais frescos e com maior acidez. Atributos altamente valorizados e procurados atualmente nos vinhos. Portanto, uma das razões do designativo é antecipar e comunicar esses atributos antes de abrirmos a garrafa e nos servirmos do vinho.
Porque é que isso acontece? À medida que a altitude aumenta, a atmosfera fica menos densa e a pressão atmosférica diminui. Como resultado, a retenção de calor dos raios solares torna-se menos eficiente. Isso significa que, para cada 100 metros de elevação acima do nível do mar, a temperatura cai aproximadamente 0,65ºC.
Só por aqui se percebe como a altitude exerce os seus efeitos. Neste contexto, a humidade também diminui com o aumento à medida que subimos, provocando maiores amplitudes térmicas, com noites mais frias e secas.
E essa frescura noturna tem efeitos na maturação (mais lenta e equilibrada), nos taninos (níveis mais elevados de taninos e antocianas, na cor e na preservação da acidez. E durante os últimos dias de maturação, essas noites frias são cruciais. A acidez protege contra a oxidação e ajuda na estabilização da cor dos vinhos por mais tempo. Além de que serve como garantia de frescura, de longevidade, de equilíbrio e de elegância! A tudo isto, há que juntar os outros fatores, o chamado terroir e, claro, o entendimento que cada produtor tem.
Por todas as razões acima, os “Vinhos de Altitude”, terão um caráter muito próprio, sabor e fruta menos opulenta, além de bons taninos e uma refrescante acidez. Mesmo que apresentem um teor alcoólico que oscile entre 13% e 14%, esses vinhos continuarão a exibir finura e elegância notáveis. Ah! E capacidade de envelhecimento.
Conheça alguns vinhos portugueses feitos a partir de vinhas de altitude recomendados pelo Sommelier Manuel Moreira:
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