O projeto Elite Vinhos é uma história de afinidades.

Tudo começa em 2014, a ação decorre em Reguengos de Monsaraz e na base do enredo está a amizade de dois casais. Depois de vender parte dos seus negócios, o francês Christian Vermet e a sua esposa, a irlandesa Mary Wilkinson começaram a procurar um novo projeto para trabalhar juntos. Apaixonaram-se pelo Alentejo, e compraram a Herdade de Ceuta. Começaram com 3 hectares de vinha e ficaram rapidamente entusiasmados pela viticultura.
Na outra metade está o casal português Filipe Perdiz e Helena Godinho, igualmente proprietários de vinhas e com carreira profissional na área da enologia.
O vinho levou a que os dois casais se conhecessem. Os quatro tornaram-se amigos e com naturalidade surgiu a ideia de fazer um projeto vitivinícola em conjunto: fazer vinhos de alta qualidade a partir de uvas próprias.
Desta união de vontades nasce a Elite Vinhos em 2017. Prontamente adquiriram mais vinha, edificaram uma adega e nasciam os primeiros vinhos. Hoje já somam 110 hectares de vinha, embora ainda só transformem em vinho cerca de 20% da uva produzida. Mas o objetivo é o de vinificar tudo. Para esse fim, já há planos de ampliação da área de armazenamento para 150 mil garrafas.
Anexo à adega, funciona uma loja de vinhos e outro espaço, pronto a usar, que será um pequeno wine bar e sala de provas. Para completar a oferta de enoturismo, está concluído outro espaço preparadíssimo para eventos, refeições de grupo, reuniões, etc. Além destas áreas, há uma loja de vinhos em funcionamento no Castelo de Reguengos que acabaríamos por visitar.

Na visita às instalações, junto à vila medieval de Monsaraz, um dos mais antigos povoados de Portugal, olhando ao redor, é evidente que ali a vinha e o olival têm presença muito forte. Estamos em Reguengos, uma das oito sub-regiões vitivinícolas do Alentejo, a duas horas de carro de Lisboa (175 km). É a sub-região de maior densidade vitivinícola da região e a de maior área de vinha com 4000 hectares.

Quem nos guia pelas instalações e nos leva a algumas das vinhas é Filipe Perdiz, o diretor executivo e enólogo principal. Formado na Universidade de Évora, este engenheiro agrícola trabalhou 20 anos como Técnico de Viticultura na ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo). Este percurso deu-lhe um conhecimento aprofundado dos terroirs, das vinhas, das castas autóctones (das quais é muito estudioso e diz que as adora) e tudo o que tem sido desenvolvimentos de inovação na região.
Como exemplo, algumas das vinhas da Elite Vinhos são espaços de experiências, autênticos “laboratórios” em campo aberto. Em colaboração com a PORVID (Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira), leva a cabo estudos de seleção clonal e disponibilizam as suas terras para outros ensaios como o de um herbicida natural à base de plantas como alternativa ao glifosato. Tudo alinhado com a redução de resíduos de produtos fitofarmacêuticos, um dos seus principais objetivos da empresa.
Filipe, parece ter um espírito de missão. Diz que “gosta de coisas difíceis!”. Concorreu à presidência da CARMIM (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz), mas não venceu. A acontecer, talvez a Elite Vinhos não existisse, pensamos nós. Não tendo acontecido, a oportunidade surgiu e Filipe pôde levar por adiante o sonho antigo de ser enólogo da sua própria adega.
A caminho de uma das suas vinhas, após um par de quilómetros de distância da adega, passamos pelo meio de São Pedro do Corval, onde se concentra o maior número de olarias em Portugal. Na estrada que atravessa a localidade é impossível não reparar intensa sinalética “oleira”, sobre a qual Filipe nos diz que “ainda há uns artesãos oleiros, que trabalham de modo tradicional!”. Pensamos alto que temos de fazer uma visita a conhecer esta arte e os artesãos. Afinal, temos a felicidade de Filipe nos poder ajudar como nenhum outro. Por que não aproveitar? Logo ali ficou assente o compromisso.

Chegamos à vinha. Encontra-se num cabeço, dos muitos que modelam a orografia da zona e desdizem a ideia única de planura.
Estamos na primeira vinha que plantou em 2009. Nestes solos argilo-calcários com xisto pontifica a variedade Touriga Nacional da qual elabora um rosé que já lhe rendeu várias distinções. É um vinho sem exuberâncias, mas perfumado, de paladar bem seco e estruturado, surpreende pela vivacidade e frescura que muitas vezes parece não querermos lembrar de que o Alentejo também tem.

Seguimos para outra vinha, que está à beira da estrada num baixio com uma habitação rural que se transformará em restaurante. Sentimos em Filipe uma certa hesitação nas palavras sobre o propósito, mas percebemos não corresponderem à certeza já bem consolidada que tem no pensamento. Já numa outra parcela, também num alto, o olhar perde-se na imensidão que avista. Ao lado, separada pela estreita estrada, uma vinha de Cabernet Sauvignon muito “especial” à qual Filipe dava apoio técnico e que, entretanto, acabou por a comprar. Aqui o Cabernet Sauvignon “só dá 2 ton/hectare, mas o que dá é de grande qualidade”. Apesar de trabalhar com algumas castas internacionais, Filipe atribui às castas Perrum e ao Moreto a base fulcral do projeto.

Na prova dos vinhos, na adega e à mesa do restaurante Taverna Os Templários inserido na vila medieval protegida pelas muralhas do Castelo de Monsaraz, percebemos como a Elite Vinhos olha de frente para o futuro sem renunciar ao património ampelográfico regional. Disso daremos conta na nossa próxima história.
Fim Parte I
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