A casta Arinto dá origem a vinhos vibrantes, de elevada acidez, de intenso poder refrescante e bom potencial de guarda. Das castas mais cultivadas por todo o Portugal, versátil e distintiva. Para muitos é a grande casta branca portuguesa.
O Arinto encontra-se quase todo o lado. É uma das castas brancas mais cultivadas em Portugal. É a terceira casta branca mais plantada, 5 7780 hectares, o equivalente a 3% da área total. A sós ou em blend, assumindo a função de coluna vertebral ácida em muitos vinhos brancos, o seu nome é assíduo na rotulagem.
É na região do Minho, com o nome de Pedernã, seguida do Alentejo onde se encontram as maiores áreas de plantação da casta. Para muitos é a grande casta branca portuguesa. O reputado enólogo e grande conhecedor da Arinto, Osvaldo Amado vai ainda mais longe “Das cinco melhores castas brancas do mundo, três são portuguesas. As estrangeiras são o Chardonnay e o Sauvignon Blanc e as portuguesas são o Encruzado, o Alvarinho e o Arinto”.
No mesmo sentido, em finais do século XIX, Bernardino Camilo Cincinato da Costa (1866-1930), professor e agrónomo de referência e autor da indispensável obra - O Portugal Vinícola: Estudos sobre a Ampelografia e o Valor Enológico das Principais Castas de Videiras de Portugal (1900) - escrevia “a Arinto é uma das castas mais notáveis de Portugal”.
Já o professor Virgílio Loureiro, na obra Guia Repsol 2002/2003 Os Melhores Vinhos de Portugal, “a Arinto é uma casta genuinamente portuguesa, de longas tradições, já conhecida dos monges agricultores do Mosteiro de Alcobaça”, e segundo o mesmo especialista, Vicêncio Alarte já a descrevia em 1712, no primeiro tratado de viticultura escrito em Portugal nos seguintes termos. “as uvas arintas saõ de excelente qualidade, porque saõ boas para comer, fazem o melhor vinho, e saõ tam fortes que resistem a todo o tempo…”. Esta descrição soa tão atual que parece saída de qualquer escrita dos dias de hoje.
Estudos de genética sugerem que a casta se encontra instituída há mais tempo na região do Oeste, sugerindo ser este o seu berço, sobretudo na Região Demarcada de Bucelas. Mais tarde expandiu-se para as restantes regiões onde é cultivada.
É casta vigorosa, de grande expressão vegetativa, característica a solucionar através de poda ajustada de acordo com fertilidade do solo. Em solos férteis, poda longa ou mista. Nos solos menos férteis, poda mista ou curta. A Arinto produz pouco, não dá muitos cachos por vara, mas são de bom tamanho, embora de bagos pequenos.
Ao estar por tantos sítios, é fácil de imaginar que se ambienta sem grande dificuldade a variadas condições. Todavia, a sua sensibilidade à podridão, pede o cultivo em locais mais arejados ou de encosta.
A casta Arinto, adapta-se com facilidade a todos os terrenos e com bons resultados, mas é nos solos calcários, fundos e húmidos, bem drenados, que origina os vinhos de maior distinção.
Na Região Demarcada de Bucelas, bem perto de Lisboa, usufruindo da influência atlântica e dos contrastes climáticos das manhãs húmidas e enevoadas às quais se sucedem as tardes soalheiras, é onde o Arinto atinge o perfeito equilíbrio entre os ácidos, açúcares e os aromas.
Aqui, atinge o seu expoente máximo, de personalidade e temperamento, que lhe deu, ao longo dos tempos, bastante prestígio. Era o vinho de Bucelas “aristocrático que enche de orgulho o vinhateiro, e constitue a glória dos seus torrões”, como disse António Augusto de Aguiar (1838-1887), professor, cientista, político, e um dos principais responsáveis para a melhoria do vinho português. Investigador reconhecido a nível internacional, também publicou vários estudos em revistas alemãs e francesas.
Não esquecer o contributo dos solos argilo-calcários que contêm sedimentos marinhos, que completam a combinação de fatores que dão forte identidade aos Arintos de Bucelas.
A estes calcários, bons para o Arinto, contem-se os da Bairrada e de algumas áreas do Tejo. No Minho, a casta sob o nome Pedernã, situa-se em solos graníticos. No Douro, encontra-se cultivada em altitude, nos solos de transição do xisto para o granito. No Alentejo, sem preferência de solos, está presente em boa parte da diversificada geologia alentejana.
Os solos argilo-calcários com sedimentos marinhos dão forte identidade aos Arintos de Bucelas. Outros calcários bons para Arinto, Bairrada e de algumas áreas do Tejo. No Minho, situa-se em solos graníticos. No Douro, solos de transição do xisto para o granito.
A casta Arinto dá origem a vinhos vibrantes, de elevada acidez, de intenso poder refrescante e bom potencial de guarda. A acidez firme é mesmo o principal cartão-postal do Arinto. Para ela é rotineiro, instintivo, o balanço entre uma maturação de 12% de teor alcoólico com 6 gr/litro de acidez. É essa faculdade em obter acidez natural, que a tem levado ao papel de casta melhoradora em muitas regiões portuguesas, em especial as mais quentes, onde a acidez é mais escassa, em inúmeros lotes e em combinações com outras castas.
Não se espere dos vinhos produzidos a partir de Arinto que nos possam conquistar pela intensidade ou exuberância aromática. Bem pelo contrário, é reservada e discreta. Nela identificamos as sensações a maçã verde, lima, limão e, não raras vezes, impressões de perfil vegetal. Um pouco mais tropical se fermenta a temperatura mais baixa e com leveduras eficazes nessa função. Maior sentido de lugar, maior impressão mineral, mais desafiante e delicada quando fermentada com leveduras indígenas a temperaturas não muito baixas.
No Minho, como Pedernã, atinge o seu melhor nas zonas mais interiores da região. Sobressai o frutado cítrico, maçã madura e pêra e algum floral. Sempre de boa acidez, aqui apresenta-se menos cortante que em Bucelas, perfil harmonioso com leve toque salino, adquire notas de compota de pêssego com envelhecimento.
A polivalência enológica é outro dos seus “talentos”. Dos vinhos ligeiros e de carácter jovial até aos vinhos mais aprimorados e ambiciosos na complexidade, elaborados com recurso a fermentação ou estágio em barrica, ficando mais ricos e texturados, com mais volume, a casta Arinto limita-se a encarar essas diferentes interpretações de forma natural e meritória.
Cada vez mais o uso da barrica para o Arinto, mas não só, assume outro papel. Barricas usadas em vez de novas e com maior dimensão (300-500l), barricas mais neutras ou então escolhidas a dedo para a casta, são a preferência para que esta expresse ao máximo o terroir de origem.
Os vinhos de Arinto, eventualmente com Bucelas à cabeça, tornam-se grandes vinhos com o tempo. Nos melhores exemplos, eleva-os a patamares de topo onde estes ombreiam com os grandes do país. Após envelhecimento de décadas em garrafa, ganha notas de casca de laranja, coalhada de limão, frutos secos, caramelo de manteiga, gengibre desidratado, mel, pedra lascada e encantadoras notas a querosene, que não envergonham ninguém diante dos melhor Borgonha.
O Arinto é caso sério como vinho de base perfeito para a elaboração de espumantes, dada a elevada acidez e recato aromático. Mas não se fica por aí. Entretém-se, numa audaz exibição de polivalência, a dar origem a vinhos de sobremesa, vinhos doces no formato de colheita tardia ou fortificados.
Os vinhos de Arinto ficam muito bem com peixes grelhados, com ervas aromáticas e manteiga de limão. Sublime na aliança mar, limão e coentros com as famosas Amêijoas Bolhão Pato. Sushi, saladas de peixe ou frango, Poke, ou com as deliciosamente crocantes Pataniscas de Bacalhau funciona como poucos.
Qualidade, distinção, polivalência e a sabida capacidade de envelhecimento constituem-se como argumentos de indiscutível força e fundamento da Arinto. Por tudo isto, percebe-se porque muitos a consideram a grande casta branca portuguesa.
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