A Castelão é um cruzamento natural entre a Cayetana Blanca e o Alfrocheiro, já descrita em documentos datados de 1531.
Segundo o Anuário Vinhos e Aguardentes de Portugal 2020/2021, elaborado pelo IVV (Instituto da Vinha e do Vinho), a casta designada como Castelão / João de Santarém / Periquita, ocupa 9952 hectares correspondente a 5% do total de castas plantadas. É a casta tinta mais plantada das regiões da Península de Setúbal (onde tem um peso esmagador de 41%) e de Lisboa (onde representa 24% do encepamento). É a segunda casta mais plantada no Algarve e na região do Tejo, tendo ainda porção significativa no Alentejo, ocupando a sexta posição do total das castas.
A Castelão é um cruzamento natural entre Cayetana Blanca e Alfrocheiro, já descrita em documentos datados de 1531 que a mencionam em terras perto de Lamego, a norte na vizinhança do Douro. Tornou-se muito popular depois do enorme sucesso comercial tido pelo produtor José Maria da Fonseca com o vinho de Castelão plantado na sua vinha chamada Cova da Periquita. A boa qualidade desse vinho levou a casta a ficar associada ao nome dessa vinha, passando o vinho e a casta a serem referenciados sob o nome de Periquita, um dos sinônimos mais habituais da casta e que junto da João Santarém são sinónimos oficialmente reconhecidos pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Nas Beiras chamam-lhe Trincadeira.
A sua incrível capacidade de adaptação levou-a a estar plantada um pouco por todo o lado, desde as regiões mais frescas e húmidas do norte do país até às mais ensolaradas e acaloradas do sul. A sua elevada produtividade e resistência a doenças, eram motivos que alimentavam a sua popularidade, além disso mostra-se resistente ao escaldão e a sua grossa película é-lhe favorável contra as chuvas. Pode manter a acidez em condições de calor, o que é certamente uma vantagem na luta contra as alterações climáticas.
“Castelão já foi a casta tinta mais plantada de Portugal. A sua incrível capacidade de adaptação levou-a a estar plantada um pouco por todo o lado. A sua elevada produtividade e resistência a doenças, faziam-na popular”.
Tem alguns solos preferidos. Os profundos de areia de Pegões (Península de Setúbal) e solos de areia pliocénica da sub-região de Charneca, no Tejo, e os argilo-calcários da região de Lisboa. Em geral, nos solos arenosos pode chegar aos 13%-14% de teor alcoólico e dar vinhos ricos de cor, bastantes carnudos. O comportamento é muito diferente nos terrenos argilo-calcários, onde dá vinhos de teor alcoólico mais baixo, menos cor e acidez mais excessiva.
A versatilidade na adega é atributo muito elogiado. Em tinto, pode apresentar-se em versões mais leves e fáceis de beber quando jovens. Pode surgir em versões de maior concentração e estrutura firme, intensa acidez e taninos, que nos melhores exemplos chegam a envelhecer por décadas, em especial a partir de vinhas velhas de baixa produtividade. Quem a conhece bem, diz que é dos solos arenosos que saem os vinhos mais longevos. Há quem vinifique a casta em lagar com pisa a pé e macerações longas, como em inox ou em ânforas argelinas. Alguns enólogos preferem usar engaços maduros para dar mais estrutura e adicionar complexidade. E tem muito boa relação com barricas de carvalho francesas ou tonéis de madeira de maior volume. Há quem goste de usar madeira nova na primeira fase do envelhecimento seguida por madeiras usadas numa segunda fase.
“A versatilidade na adega é atributo muito elogiado. Dos tintos leves a mais encorpados e longevos, é capaz de produzir todos os tipos de vinho, sejam espumantes ou brancos de tintas, passando pelos rosés e até vinhos fortificados”
Além de vinhos tintos, é capaz de produzir outros tipos de vinho, sejam espumantes ou brancos de tintas, passando pelos rosés e até vinhos fortificados.
A que sabe o Castelão? Os seus vinhos são marcados pelo frutado (groselha e frutos silvestres) e plantas silvestres, com a evolução surgem notas de compota ou ameixa em calda e, nalguns casos, tabaco e caça mortificada.
De acordo com o estilo, pode ser harmonizado com pratos de sabores mais delicados e leves, como esparguete com pota e mexilhão, salsichas frescas enroladas em couve-lombarda, Peixe frito de escabeche ou um churrasquinho misto com molhos de Verão e passando pelo ângulo vegetariano, Frittata de legumes e mozzarella.
No outro extremo, nas versões mais robustas e complexas, é capaz de enfrentar pratos com sabores fortes e profundos. Desafie-o com um peru recheado, rolo de carne com molho de natas e cogumelos ou Bife de vaca grelhado com molho chimichurri e peperonata.
“Tem muito boa relação com barricas de carvalho francesas ou tonéis de madeira. É dos solos arenosos que saem os vinhos mais longevos”.
Na próxima semana partilharemos alguns dos vinhos Castelāo recomendados por Manuel Moreira, e muitas combinações inusitadas. Fiquem atentos!
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