Na região vitivinícola da Beira Interior a produção de vinho é tradição bem antiga. Ainda muito está por desvendar.
Os romanos podem ter sido os responsáveis por introduzir vinificação na região, uma suposição reforçada pelos muitos vestígios da sua presença. Os inúmeros lagares rupestres esculpidos na rocha, que ainda persistem, servem como testemunho de uma cultura vitivinícola profundamente enraizada.
Aqui, também as ordens religiosas monásticas da Idade Média, deram grande importância ao vinho, promovendo e multiplicando as vinhas, além de desenvolverem conhecimentos técnicos importantes. No período medieval, o vinho tornou-se uma atividade desejável para as elites e a coroa, tanto pelo potencial de arrecadação de receitas fiscais quanto pela simbologia do poder religioso.
O vinho é basilar nos hábitos de consumo, na culinária, em festas e tradições rurais, sublinhando a sua importância na região. A diversidade e originalidade das castas, mencionadas em documentos seculares e presentes em ambos os lados da fronteira, instituíram sua própria identidade vitícola.
No século XIX, a indústria vitivinícola enfrentou distúrbios e sobressaltos devido a pragas, doenças e instabilidades económicas e sociais. No final desse século e início do XX, a região, menos afetada pela filoxera, sofreu com a recuperação das outras, o que a levou ao excesso de produção e respetiva queda de preços. A Beira Interior, isolada e distante de grandes centros consumidores, com dificuldades de escoamento, sofreu com decadência, fome, miséria e emigração, que levou ao atraso tecnológico e abandono das vinhas.
Desde as últimas décadas do século XX, o sector vinícola local evoluiu graças a esforços conjuntos e modernização de adegas. E assim a região começou a despertar e a mostrar aquilo de que é capaz. Como corolário, tem ganho reconhecimento e mercado pela sua qualidade e identidade dos seus vinhos.
Beira Interior, a região e castas.
Com 16.000 hectares de vinhedos, envoltos pelas majestosas serras da Estrela, Gardunha, Malcata e Marofa - algumas das mais elevadas de Portugal -, as vinhas são geralmente cultivadas em terrenos planos ou inclinados, situados a altitudes que variam de 350 a 750 metros. Esta região é considerada a mais elevada e montanhosa região vitivinícola de Portugal.
O clima é de características continentais, com verões curtos e quentes e invernos longos e muito frios. A maioria dos solos tem base granítica e algumas áreas arenosas. Existe, também, xisto e quartzo, que são solos pedregosos e menos férteis, restringindo naturalmente o vigor e a produtividade das videiras.
A DOC Beira Interior foi estabelecida a 2 de novembro de 1999, e está dividida em três sub-regiões: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.
As duas primeiras situadas mais a norte e contíguas, num planalto elevado (600-750 metros), ambas apresentam clima seco, baixa precipitação anual e grandes variações de temperatura.
A Cova da Beira, localizada mais ao sul, é a maior das três sub-regiões. De menor altitude e clima mais ameno, de alguma influência mediterrânea e mais chuvoso. Por isso, a colheita é feita mais cedo do que nas outras duas regiões.
Além das três sub-regiões, existem vinhas e vinhos não incluídos na DOC Beira Interior, mas abrangidos pela Indicação Geográfica Terras da Beira.
Em relação às castas, o referido isolamento permitiu preservar suas vinhas antigas e as suas uvas tradicionais. Junto com estas, contam-se uvas vindas de outras regiões nacionais e internacionais.
Nas castas brancas identitárias é de mencionar a Síria e Fonte Cal. A Síria notabiliza-se pela pureza aromática e intensa frescura. A Fonte Cal, que é quase exclusiva da região de Beira Interior, é valorizada pela sua estrutura, cremosidade e elegância dos vinhos que produz. Outras uvas comuns na região incluem Fernão Pires, Malvasia Fina e Arinto.
A tinta mais emblemática é a Rufete, também conhecida como Tinta Pinheira no Dão. De regresso ao radar dos apreciadores depois de anos esquecida por causa da fraca cor dos seus vinhos. Nos melhores exemplos, produz vinhos tintos delicados, de fruta elegante, aromas terrosos e taninos suaves. Outras uvas tradicionais incluem Trincadeira, Jaen, e Marufo.
A Beira Interior destaca-se como uma das regiões vitivinícolas privilegiadas para o cultivo em modo biológico das vinhas. O clima seco da região contribui para uma menor incidência de doenças, o que favorece a sustentabilidade ambiental, fator diferenciador e muito valorizado na atualidade.
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