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As vinhas antigas de Torres Vedras.

Atualizado: 20 de mai. de 2023

Sónia Raposo e Pedro Marques, dedicaram-se nos últimos quatro anos na procura de vinhas antigas no concelho de Torres Vedras, região vitivinícola de Lisboa, onde ainda podem subsistir castas tradicionais. Tem-nas encontrado depois de muitas cervejas bebidas em cafés aos feriados e aos domingos, tentando saber quem ainda teria pequenas parcelas mais antigas destas castas. Sem dúvida, método validado pelos resultados obtidos. Ao casal move-os a recuperação de uma identidade perdida dos vinhos mais antigos da região devido ao abandono de castas tradicionais, em especial as castas Castelão e Tinta Miúda.

Em Torres Vedras predomina a influência atlântica, mas Las Vedras consegue praticar uma agricultura biológica.

Agora cuidam de várias pequenas parcelas de vinha num total de 2,5 hectares com idades entre os 30 e os 80 anos localizadas em Torres Vedras. Todas as parcelas estão em encosta, com solos argilo-calcários, de difícil acesso, em locais difíceis de mecanizar e, por tudo isto, têm sido pouco interessantes de replantar com outras castas.

old vines at a winery in Torres Vedras, Portugal
Foto: Las Vedras

Da parcela Pêro Negro, fazem três vinhos e conhecemos dois deles.

O Pêro Negro branco 2019, feito com Fernão Pires, Seminário (Palomino em Jerez) e Alicante Branco, uma vinha com quarenta anos. Maceração de um dia e meio, prensagem, seguido de fermentação e estágio em pipo (600 litros) durante dois anos. Para Pedro, tem sido um trabalho desafiante o tentar capturar frescura num vinho que à partida tem três castas com défice de acidez. É um desafio que abraçam com naturalidade, faz parte do imenso gosto de trabalhar a viticultura, e de tentar moldar as videiras para atingir o objetivo.

Já o tinto Pêro Negro 2019, é um lote de 90% de Castelão e 10% de Tinta Miúda. Na tentativa de dar ao vinho boa aptidão de envelhecimento, usam 100% de engaço. Pedro diz que a casta Castelão com engaço é interessante, compensando algum do seu défice de tanino, para dar longevidade ao vinho. Já sobre a Tinta Miúda Pedro considera ser uma casta que vai fazer falta no futuro, pois retém acidez e frescura como nenhuma outra. Tem se mostrado equilibrada nos últimos anos com o calor que se tem feito sentir, “queremos acarinhá-la, estudá-la e contar com ela para os lotes de futuro”.

Da parcela Portela do Bispo, conhecemos “en primeur" a primeira produção desta vinha de 80 anos, com mistura grande de castas com predominância da Tinta Miúda, descoberta mais tarde, em 2019. É o tinto Portela do Bispo 2020.

Vinificado com esmagamento, pisa a pé, de curtimenta clássica tentando dar uma estrutura mais rica no vinho que suporte envelhecimento. Teve estágio longo, 20 meses em barrica velha e mais 6 em depósito de inox. Pedro diz que percebeu um pouco da lógica da casta com este vinho. Tem uma frescura vegetal notória, dá uma certa dimensão austera ao vinho, quando muito jovem.

No fundo, estes vinhos levam-nos a aprender e a descobrir esta viticultura de Torres Vedras, que é rara, da qual existem poucas vinhas.


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