Fernão Pires, é a casta branca mais plantada em Portugal com 13700 hectares. Encontra-se em quase todas as regiões vinícolas, mas é na planura da região vinícola do Tejo onde tem a maior área de cultivo, são 4000 hectares num total de 12 500 hectares.
A casta aprecia a brisa marítima e mostra-se essencial para as regiões de influência atlântica em proporção considerável, caso da Beira Atlântico (21,5%), onde também a chamam de Maria Gomes), Lisboa (10,5%) e Península de Setúbal (9,4%), as regiões logo a atrás do Tejo em área de cultivo da casta.
Casta autóctone portuguesa, bem antiga, já mencionada desde 1788. Tem grande potencial agronómico, é a casta que mais cedo inicia o ciclo vegetativo, possui forte adaptabilidade a solos e clima, tal como se ajusta bem à ausência de água e à existência de água. É produtiva, o que a faz do agrado do agricultor, e é versátil quanto aos vinhos que se quer produzir. A partir dela podem ser produzidos vinhos tranquilos, leves, encorpados, com e sem barrica, ajusta-se a protocolos diversos de vinificação, é boa base para espumantes, pode originar colheitas tardias.
Tem boa capacidade produtiva sem beliscar a qualidade. Quando trabalhada com critério, controle de produção, (4 a 5 toneladas por hectare e não 20) a casta reflete as diferenças da sua localização, e da interpretação de quem os faz, levando a vinhos topo de gama com boa capacidade de envelhecimento.
É uma das castas brancas mais aromáticas de Portugal devido à abundância de compostos precursores do aroma (terpénicos, linalol, nerol, geraniol), o que a torna muito eficaz e regular componente em lote, contribuindo fortemente no perfil aromático do vinho onde marca presença.
Outra característica, é o facto de não ser reconhecida pela boa quantidade de acidez. Com frequência, esse papel encontrava-se atribuído nos lotes, à casta Arinto.
Atualmente, o gosto contemporâneo e o contexto das alterações climáticas têm levado a decisões diferentes de um passado não muito longínquo. Nesse contexto, a resolução mais importante é a data de vindima. Nas regras antigas a vindima era feita pelo calendário. Apanhava-se a uva, sempre, no dia predefinido pelo hábito. Hoje, há uma mudança de mentalidades e a nova regra é vindimar a Fernão Pires em função da acidez, recorrendo até a vindima noturna para preservar a frescura.
Nos vinhos produzidos com esta uva, são comuns os aromas muito citrinos, como lima, limão, tangerina e laranja, a flor de laranjeira, ervas aromáticas e rosa, mas também uma componente vegetal. Se vindimada mais cedo vamos reconhecer os aromas mais verdes, até mesmo espargos, habituais no Sauvignon Blanc. Se a uva estiver mais madura, os aromas tropicais serão bastante identificáveis. A variação de aromas, está relacionada não só com o grau alcoólico, mas também com o estado de maturação aquando da vindima.
Talvez seja tempo de mudar a atitude perante a casta e aproximarmo-nos dela, quebrar o preconceito e explorar estas novas sensações e sabores, ainda, com tanto para contar.
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